O POEMÁRIO DE MARIANA

A poesia é a expressão verbal correspondente a uma percepção de vida subtil e pluridimensional.Instrumento expansivo de consciência, a poesia corresponde ao sentir, expresso no verbo sem as amarras da mente racional. Relembra algo que nos falta e que frequentemente não sabemos apontar e repõe a complexa beleza da manifestação...
MARIANA INVERNO

Saturday, August 13, 2005

Ada Negri


Ada Negri, nasceu em Lodi em 1870, cidade da província de Milão. De família humilde, era filha da porteira de um "palazzo" mas conseguiu, através de muitas dificuldades, o diploma de professora primária e formar-se em Letras. Em 1940, foi escolhida membro da "Accademia d’Italia", o que gerou muitos comentários, já que foi a primeira mulher escolhida para fazer parte de tão ilustre casa, na conturbada era de Mussolini.
Os seus primeiros livros reflectiam uma consciência social. Mais tarde, a sua poesia evoluiu para incluir uma imensa afirmação de sexualidade feminina - chamava às outras mulheres as suas "sorelle" (irmãs)- muito diversa da tradicional poesia de amor.
Ada Negri foi profundamente admirada por Florbela Espanca. Hoje, está praticamente esquecida, mesmo em Itália.


AQUELE QUE PASSA

O desconhecido que passa
e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos,
ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada,
em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma
que não tenha uma marca de amor.

Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses
podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
saúda a graça do deus:
Respira, passando,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
o aroma precioso do deus:

Só porque o levas contigo,
doce relíquia à sombra de um sacrário.



MULTIDÃO

Uma folha tomba do plátano,
um frémito sacode o cimo do cipreste,
És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra,
penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me atraem,
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros
a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra,
não mais pesa o corpo nos ares,
transporta-o a vertigem obscura
És tu que me atravessas, tu.


ADA NEGRI(1870-1945)
Poetisa italiana

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